consumo consciente: bio-regiões

Não reconhecemos nosso poder de compra como uma importante força de transformação social. Mas é fácil perceber este potencial. Além do boicote existem outras formas de uso para esta ferramenta social.

Mas para mostrar estas vertentes preciso, antes, expor um conceito essencial para a prática de uma cidadania planetária: a bioregião.

Como cidadãos do planeta Terra não devemos ver o globo dividido como nos mapas políticos, e sim considerando as fronteiras que a natureza nos coloca. Todos sabemos que existem os mais diversos climas espalhados pelo mundo, da gélida Antártida ao escaldante Saara, da úmida Amazônia ao árido Atacama.

A condição climática é o principal fator para definir a cobertura vegetal do lugar, incluindo as plantas que o Homem cultiva.

Mas você já considerou o clima de onde mora, ao fazer suas compras? Não vale a agua de côco para refrescar um dia quente. Aliás o côco é um bom exemplo, não por aliviar o calor, mas por ser o fruto de uma planta adaptada ao calor dos trópicos.

E eu com isso? A história é longa mas vou tentar encurtar, afinal ENCURTAR é a palavra chave, é onde quero chegar com toda esta conversa, encurtar o caminho entre a produção e o consumo. Quanto mais próxima esta relação, menos planeta é gasto. Aí é que entra o entendimento das biorregiões para conduzir escolhas conscientes. As biorregiões definem também os alimentos passiveis de serem produzidos com menos esforços.

Voltemos ao côco. Se você está com calor naquele dia quente e quer consumir um produto que foi produzido por perto, é preciso conhecer que tipo de produto suporta o mesmo calor que você sente. No caso, o coqueiro, uma planta tropical com ótimo potencial para ser cultivada com pouco esforço, em quase todo o país. O que aumenta as chances do produtor estar a menos de 500 Km. Diferentemente se sua escolha for um suco de uva, pois a Parreira planta de origem asiática no clima árido do Cáucaso, é mais difícil de ser cultivada na maior parte do país tornando a fruta uma das mais importadas para o Brasil. Este conceito pode ser expandido, principalmente para os outros produtos agrícolas do nosso leque de consumo.

Iniciei esta discussão com a idéia de levantar a bola para um produto que deveria ser mais valorizado pelo brasileiro moderno, a mandioca! junto com o milho foi base alimentar de grande parte da América do Sul. Ainda é ingrediente indispensável na mesa de muitos brasileiros. Cultura rústica e extremamente adaptada a diversas realidades tropicais, é muito difundida pelo mundo.

Atualmente, no Brasil, compete principalmente com o trigo por um espaço na base da pirâmide alimentar, lugar que é seu por direito e mérito. Esta competição se tornou desleal a partir dos enormes esforços da ditadura militar, que para disfarçar a inflação, controlou os preços do trigo de 1973 a 1989 programa que ficou conhecido como “subsidio ao consumo de derivados de trigo”.Com isso, o setor mandioqueiro em seu ápice de 31 milhões ton de raízes colhidas em 1972 começa a perder força.

Incrível é quando comparamos a produtividade e o rendimento destes produtos. O cultivo de trigo no Brasil rende em média 2 ton de grãos por hectare e são necessários 8 kg de grão para produzir 1 kg de farinha branca, enquanto a mandioca produz em média 20 ton/ha rendendo 1 kg de fécula cada 4 kg de raiz.

Esse assunto vai longe, mas vou me segurar para tratarmos do enfoque deste post, dar algum subsídio ao consumidor, para que faça da compra uma atitude consciente. Considerar a bioregião se mostra uma estratégia interessante por existirem opções no mercado convencional que permitem a qualquer cidadão exercer sua força de escolha. Os alimentos orgânicos, locais e artesanais atenderiam melhor a utopia, mas enquanto utopia, se mostram distantes da maioria da população. Por enquanto, mesmo dentro do pequeno leque de produtos da agroindústria, podemos treinar nossa consciência e emprega-la em nossas compras.

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